São João Paulo II instituiu
no dia 30 de abril de 2000 a Festa à Divina Misericórdia a ser celebrada a cada
ano no segundo domingo da Páscoa. Santa Faustina, chamada apóstola da
misericórdia, já anos antes havia escrito em seu Diário mostrando o desejo do
próprio Jesus: “Quero
que essa imagem, que pintarás com o pincel, seja benta solenemente no primeiro
domingo depois da Páscoa, e esse domingo deve ser a Festa da Misericórdia” (Diário, 47-49). Os próprios textos litúrgicos desta festa nos
direcionam para o significado profundo deste dia como, por exemplo o salmo 117: “Dai graças ao Senhor porque Ele é bom,
eterna é a sua misericórdia”.
No entanto, São João Paulo
II, já havia percebido certas barreiras com respeito a aceitação da misericórdia
divina e da sua devoção, por isso ao escrever a carta “Dives in Misericordia”
diz no capítulo IV: “É preciso que o
rosto genuíno da misericórdia seja sempre descoberto de maneira nova. Não
obstante vários preconceitos, a misericórdia divina apresenta-se como
particularmente necessária a nossos tempos.”.
Nestas palavras percebemos primeiramente que a
devoção a divina misericórdia não pode ser igualada a outras devoções por ser
“necessária”, ou seja, não é algo opcional. Mas, por que é ela necessária? Pelo fato de estar ligada ao
mistério central da nossa fé: Paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Contemplando a imagem de Jesus misericordioso vemos na catequese ali presente
as marcas de Jesus crucificado e, ao mesmo, Cristo glorioso, ressuscitado.
Em segundo lugar, notamos
nas palavras de São João Paulo II a existência de certo preconceito. Antes de
concordarmos com determinado assunto precisamos primeiramente compreendê-lo.
Quando negamos sem antes entender podemos cair neste perigo do preconceito.
Mas, por que isso acontece, tendo em vista que em si a divina misericórdia é
claramente algo bom para a humanidade? Provavelmente, porque, às vezes, identificamos
a palavra devoção com alienação. Isto é, concluímos logo que buscar um tipo de devoção
é para quem não quer se comprometer com as causas sociais da igreja. Dois
pontos são importantes para a vida do cristão segundo o ensinamento de São
Bento: “oração e trabalho”. As duas realidades devem andar juntas. A espiritualidade
autêntica sempre nos conduzirá a uma verdadeira ação cristã.
Por isso, precisamos
diferenciar devoção de devocionismo. O devocionismo sempre nos desliga da
realidade, nos leva a uma falsa experiência de Deus, nos torna alheios aos
sofrimentos dos outros. A devoção verdadeira, pelo contrário, nos leva a
imitação de um santo, a uma atitude concreta, nos faz lembrar que “a fé sem obras é morta”, nos leva a
conversão, nos liga ao amor a Deus, mas também aos irmãos. Desta forma, não
devemos ter medo de acolher em nossas paróquias a devoção a divina misericórdia,
pois esta vivenciada de forma verdadeira nos conduzirá ao encontro com Deus e a
solidariedade com os irmãos que padecem de males corporais e espirituais.
Pe. Marcos Francisco
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